domingo, 30 de janeiro de 2011

Quatro ricos galos



Algumas notas sobre o Gil Vicente, que ontem impôs um empate a duas bolas ao FC Porto. Por notas, entenda-se jogadores que, eventualmente, poderão render uma boa nota no final da época. Ou antes.

Júnior Caiçara - Numa noite em que brilhou Hugo Vieira, autor de dois golos, este brasileiro de 21 anos prendeu a minha atenção. Jogou a lateral-direito, mas fez toda a primeira volta da Orangina adaptado a lateral-esquerdo. Com a entrada de Pedro Araújo pôde finalmente jogar na sua posição de referência. É um craque. Possante, com boa visão de jogo e técnica muito acima da média, revela uma coragem fantástica a subir no terreno e processos defensivos consistentes. Tem lugar de caras numa I Liga e num bom clube. Pertence ao Santo André, do Brasil.

Zé Luís - Há uma história engraçada sobre este cabo-verdiano. Há um ano que ando a tentar ver um jogo dele, mas de cada vez que vou a Barcelos o rapaz lesiona-se na véspera. A culpa não é minha, acho. Aconteceu num jogo-treino com o Braga e, posteriormente, frente ao V. Setúbal, para a Taça da Liga. Ontem, foi de vez. É realmente um atacante destinado a grandes voos. Atleticamente forte, luta como um leão no meio dos centrais, sabe como ganhar o seu espaço na área e tem um remate forte e espontâneo. Voz amiga diz-me que possui um cabeceamento poderoso, mas frente ao FC Porto não conseguiu utilizar essa arma. Gostei muito deste rapaz. Não espanta que ande meio mundo atrás deles, FCP, SLB, SCP e SCB incluídos.

Hugo Vieira - Uma história típica do "self-made man". Descoberto no Santa Maria, dos Distritais, onde se destacou pela quantidade industrial de golos que apontou, é um extremo rapidíssimo, com grande mobilidade e capacidade de finta, imensa criatividade e destemido a atacar. No último terço do terreno causa grandes estragos e é muito difícil travá-lo. Quanto a mim só tem um defeito, se calhar fruto de uma formação apressada: quando recua para o meio-campo perde um pouco a noção do espaço e nem sempre define bem o passe. Isso foi perceptível no segundo golo do FC Porto, quando, sob pressão, passou a bola para a zona de ninguém, permitindo que Guarin construísse o lance que originou o tento de Emídio Rafael. Mas, aos 22 anos, é um jogador com margem de progressão e um talento incrível, que vale a pena refinar.

Rodrigo Galo - Há muito que reclama uma I Liga. Não sei se anda a gente a dormir, se o Gil Vicente pede mundos e fundos por ele ou se a sua polivalência suscita dúvidas nalgumas almas. Para mim é, indiscutivelmente, jogador de primeiro plano. Tem escola e o Avaí, onde jogou vários anos, tentou o seu regresso neste início de época. Pessoalmente, gosto mais de o ver a médio direito, se bem que cumpra com igual eficácia o papel de lateral-direito. Muito consistente do ponto de vista defensivo, é um atleta que sabe usar a cabeça nos momentos de maior aperto e que tem uma qualidade de passe fantástica. Frente ao FC Porto jogou a falso «10» e, como sempre, saiu-se bem. Mas isso de jogar fora do lugar é, como se sabe, um pau de dois bicos.

Última nota para Vilela: muita gente projectava um grande futuro para este médio. Ainda vai a tempo de chegar longe. Está mais completo, menos egoísta e sabe tratar o couro com requinte.

5 comentários:

Hugo disse...

Por mim, vinham os quatro para Braga! Não são piores do que muitos que cá estão! Virá algum até amanhã? :P

Pascoal Sousa disse...

O último dia de mercado é sempre convidativo a surpresas... No entanto, acho que os 4 são mais úteis para uma tarefa que é essencial para a sobrevivência do Gil: o regresso à I Divisão. Se isso não for conseguido, dificilmente o Gil terá argumentos para os segurar e, até, vendê-los a bom preço. Abraço

Pedro Ribeiro disse...

Só vi o Gil jogar (ao vivo) na pré-temporada e francamente, de todos esses, o único que me chamou a atenção foi o Zé Luís. Tenho dúvidas, no entanto, se ele já terá a maturidade suficiente para aguentar o embate da entrada num plantel como o do Braga. De qualquer forma, o potencial está lá. Para além da movimentação e do espírito de luta, impressionou-me o seu poder de impulsão.

Os restantes... francamente, não fiquei particularmente impressionado com o que vi (mas reconheço que ver um jogador actuar uma vez é insuficiente). O Rodrigo Galo que já foi várias vezes colocado na rota de Braga, parece-me um bom jogador, mas não o acho um bom lateral - ou por outra, é um lateral à brasileira, com melhores qualidades ofensivas que defensivas. Como foi sempre colocada a hipótese da sua entrada para o posto de lateral, nunca achei que fosse grande solução...

NOTA: também apreciava o Vilela (outro que chegou a estar na órbita de Braga), um jogador muito elegante com a bola nos pés, mas confesso que há muito lhe perdi o rasto...

Costa disse...

Bom dia!

Concordo plenamente com as análises feitas aqui, inclusivé a do João Vilela. Sinceramente, não percebo como, destes 4, ainda nenhum se mostra na 1ª liga.

Será que Fiuza pede mundos e fundos? Será que, no caso do Caiçara, o clube de origem também os pede?

O Zé Luis é um talento verdadeiramente impressionante, que me enche as medidas em todos os sentidos. A sua entrega ao jogo é de assinalar, principalmente se pensarmos que pertence a um geração de "rapazes" que gosta mais do seu cabelo do que de jogar à bola.

O Caiçara, confesso, é o que conheço menos, mas, nos 3 jogos que vi até agora, mostrou todos os atributos que o Bigsousa lhe aponta (só discordo um pouco do "possante").

Pedro, o Rodrigo Galo está a fazer no Gil um pouco do que o Leo Moura fez em Braga. É um grande lateral de raíz, mas as suas qualidades técnicas e capacidade de leitura de jogo, fazem com que o Paulo Alves aposte nele como médio interior, ou, até, número 10. Um desperdício, digo eu, como o foi Leo Moura em Braga.

Quanto a Hugo Vieira, é um exemplo cabal da quantidade de jogadores, alguns jovens, que temos espalhados por esse país, aos quais a humildade faz milagres. Que entrega. Que vontade. Que incisivo é este jogador. Faz-me lembrar Liedson (com as devidas distâncias) pelo que consegue "incomodar".

Enfim, estão só a 20 km...

Pascoal Sousa disse...

Olá Costa.Por possante leia-se vigoroso na passada. É neste sentido que utilizei o termo, a arrancar é posssante como um Ferrari :P