terça-feira, 23 de novembro de 2010

Uma noite à Braga

Fantástica noite europeia do Braga. Mais uma, aliás. Ganhar ao Arsenal por 2-0, num jogo em que os ingleses tinham de pontuar para carimbar o acesso aos oitavos de final da Champions, é uma proeza que não está ao alcance de qualquer equipa. O facto é que o Braga não é uma equipa qualquer. Quando está motivada, quando está concentrada, quando consegue ser agressiva e assertiva, é uma equipa capaz de tudo, até de manter acesa a chama da Champions quando o quadro geral parecia indicar o fim da ilusão. A ilusão mantém-se, mas a conjuntura continua a ser difícil. Mas isso são contas para acertar dia 8 de Dezembro, na certeza de que no futebol nada é impossível.

Esta vitória épica do Braga no Axa tem vários protagonistas. O primeiro, Domingos, que viveu semanas complicadas por força das três derrotas consecutivas no Campeonato. Deu a volta ao texto, graças a uma incontestável capacidade de liderança e à firmeza com que defendeu as suas ideias. Um treinador fraco, ou fragilizado, teria feito a vontade a quem, de fora e sem conhecimento de causa, reclamava mudanças de fundo no onze, da baliza ao ataque. O jogo de hoje veio provar (se é que era necessário) que o problema do Braga em muitos dos jogos internos não é o jogador A ou o atleta B. Às vezes, é o todo que não funciona como um corpo unido e harmonioso. Esta noite, o Braga cometeu 24 faltas, foi mais agressivo a procurar a bola, e como colectivo funcionou razoavelmente bem.O futebol não foi espectacular, mas olhando à parte lógica da questão o que se pede não é uma equipa romântica na abordagem aos jogos, mas uma equipa que conheça as suas limitações, que tenha fé nos seus méritos, que seja calculista na gestão do tempo e pragmática no aproveitamento de cada desequilíbrio que crie.

A segunda personagem do jogo é, naturalmente Matheus, autor dos dois golos. Esta semana, na Bola, escrevi uma peça dando conta de que a transferência do brasileiro em Janeiro é inevitável. E é mesmo. Não haverá Matheus no Braga em Fevereiro, a não ser que Salvador cometa uma loucura - o que também não vai acontecer Vejamos: Matheus está em alta na Champions, leva três golos marcados no grupo H, dois dos quais ao Arsenal; na fase preliminar da prova, apontou três golos, um ao Celtic, dois ao Sevilha; está em final de contrato; não tem agente, quem surgir com a melhor oferta para o jogador e para o Braga, ganha a corrida. Tudo somado, há que reconhecer que chegou o momento de Matheus dar o salto ambicionado e que, sem dramas, chegou também a altura do Braga fazer aquilo em que é especialista - vender os activos ao melhor preço. O caso de João Pereira é, neste aspecto, paradigmático...

11 comentários:

Pedro Ribeiro disse...

O Braga abordou esta época com muitos jogadores importantes em fim de contrato. O Matheus é apenas um deles - e concordo que dificilmente ficará em Braga depois de Dezembro. No entanto, é pena que não tenha visto o seu contrato renovado porque, nas actuais circunstâncias, dificilmente dará uma grande maquia...

Mas há mais, sobretudo a dupla de centrais titular. Rodriguez quer há muito sair e provavelmente também não estará disposto a renovar - menos ainda depois da portentosa exibição de ontem. Moisés... talvez ainda possamos mantê-lo, atendendo à sua idade. E há ainda o capitão Vandinho, cuja situação no entanto me parece mais fácil de gerir.

Em relação ao jogo, a grande diferença em relação a Londres foi que assumimos a nossa inferioridade, percebendo que não poderíamos nunca jogar o jogo pelo jogo. As declarações de Wenger são elucidativas do quanto o desagradou ter de enfrentar uma equipa que "não saiu lá de trás", que foi agressiva, jogando muito junta e dando pouco espaço. As substituições de Domingos também resultaram bem (é verdade que praticamente coincidiram com a inferioridade numérica do Arsenal) e a velocidade de Matheus fez o resto.

Só uma nota para falar de Elton. Parece-me um ponta-de-lança de grande qualidade cuja escassa utilização não pode ter a ver apenas com razões desportivas. Teve um papel decisivo ontem com a tremenda assistência para o golo inaugural. Espero que os problemas que tenham existido com ele, estejam resolvidos e que a equipa passe a contar com uma solução diferente do que tem tido para o eixo do ataque.

ana disse...

Muito bom! Parabéns ao Braga! Contra os milhões muita atitude e raça. Querer é poder, é costume dizer-se. Muito bom!

Pascoal Sousa disse...

Bom, Pedro, julgo que a questão do Matheus poderá ser resolvida da mesma forma que a do João Pereira. O João foi vendido por 3 milhões e também estava em final de contrato. No tempo certo, seguramente em Janeiro, o Braga vai fazer um bom encaixe com o Matheus. Realmente, dá-se o caso de muitos jogadores em final de contrato estarem a exibir-se a um nível muito elevado. Em Agosto, fiz um resumo dos atletas em final de contrato no Braga e recebi e-mails de muitos adeptos que, de uma forma geral, consideraram o conteúdo do texto extemporâneo. Na verdade, não o fiz por falta de mais matéria. Fi-lo porque é em Agosto/Setembro que estas situações devem ser acauteladas. Assim aconteceu com o Alan e com o Paulo César. O Braga tentou, os jogadores decidiram não assinar já e aguardar por Janeiro. É um direito que lhes assiste e o clube nada pode fazer. Em relação ao Moisés, não sei se é bem como diz. Moisés livre é um alvo para grande equipas e a idade, neste caso, não é assim tão importante. O Rodriguez dificilmente não será negociado em Janeiro. Da análise ao jogo, 100 por cento de acordo. o Braga foi mais inteligente que em Londres na abordagem que fez à partida. Como o Pedro, também aprecio muito o Elton. Mas, sejamos coerentes: o ataque do Braga tem funcionado muito bem, exibindo-se nos níveis da época passada. Quem tirar? Matheus? Lima? Neste arranque de época, é importante os atacantes terem o máximo de carga para atingir patamares elevados. Por outro lado, o Elton teve muitas dificuldades de adaptação. O mesmo aconteceu há uns anos na Polónia. É um jogador que criou raizes fortes no Brasil e que demorou a ambientar-se. Há um determinado nível de exigência nos treinos e na compreensão táctica que um treinador nunca deve abdicar. Utilizar Elton quando se tem a percepção de que não deu tudo à semana, e que há melhores opções à frente dele, seria um princípio errado. Atingido os «serviços mínimos», aí sim, vale a pena lançar Elton. É um grande jogador, muito versátil, forte como referência única na área, mas também com aptidões para jogar num sistema com dois atacantes. Abraço

Carlos Alexandre disse...

boa noite, aprecio muito as cronicas sobre o "meu" braga, relativamente à questão dos contratos concordo com a analise que fez de quem quis renovou, quem não quis nao o fez...apenas gostava de fazer uma correcçao porque,salvo erro, o joao pereira nao terminava contrato logo nesse junho mas sim 1 ano depois. a questão era ir por 3 ali ou entrar na epoca seguinte em final de contrato, mas nao tenho a certeza absoluta. o braga saberá vender bem os seus activos como sempre!!
relativamente ao jogo acima de tudo domingos teve cabeça e tb a estrelinha que o tem desacompanhado, mexeu na equipa ganhou o jogo. com o shaktar mexeu quando estava a ser melhor e perdeu-o para dar só um exemplo!! a ver se esta vitoria ainda vai a tempo de relançar a temporada do meu clube para onde ela merece ir!!!

Pedro Ribeiro disse...

Em relação ao Elton, a questão é que as suas características são muito diferentes das dos restantes avançados que têm jogado. E realmente não se percebe a sua recente travessia do deserto, à luz de argumentos de natureza puramente desportiva, quando mal chegou foi logo opção - recordo, por exemplo, que actuou no transcendente jogo de Sevilha, entrando com a eliminatória adiantada mas ainda não definida (salvo erro, o resultado estava em 2-1). Mesmo que não fosse primeira escolha, é no mínimo surpreendente que durante um período mais ou menos prolongado nunca tenha sido sequer alternativa lançada no decorrer dos jogos, quando em várias situações a equipa se viu em desvantagem no marcador.

E depois há uma outra questão. É indiscutível que, em termos de ataque, a equipa tem sido muito realizadora, a tal ponto que nem o Braga da época passada se superioriza ao actual - assim, de repente, apenas o Braga de Cajuda (com Feher, Edmilson, Riva, Zé Roberto,Tiago e Barroso) teria mais golos marcados do que o actual Braga ao fim de 11 jornadas. Mas esta equipa não é equilibrada. Não sabe ter bola. Olhando as estatísticas da eficácia de passe, raro é o jogo em que apresenta números muito acima dos 60%. Não há equipa que seja defensivamente eficaz não sabendo, em momentos, ter bola, sobretudo em jogos que exigem iniciativa de jogo (o que não foi propriamente o caso de ontem). A escolha dos avançados ilustra esta característica. São sobretudo jogadores de explosão, talhados para um futebol de transições rápidas, que quase sempre optam por soluções de risco (com mais perdas de bola) mas nenhum deles tem grande capacidade para jogar em apoio, servir de referência, reter a bola à espera que a equipa suba em bloco. Sem renunciar ao seu modelo de jogo, Domingos pode perfeitamente acomodar um jogador com outras características na frente, oferecendo à equipa um cunho ligeiramente diferente. Fazia-o aliás na época passada, actuando com Meyong. Elton pode também servir este papel. Até porque, como o Bigsousa diz, ele também já mostrou (ainda que em pouco tempo) que também sabe fazer outras coisas, que é um jogador versátil.

Enfim, quanto à renovação de Moisés, não digo que seja fácil mas atendendo à sua idade, pode ser que ele valorize também o estatuto que tem na equipa e a perfeita ambientação à cidade - que serão aspectos que com a idade há tendência a valorizar mais. E depois penso que estamos, nesta altura, em condições de fazer um esforço adicional por manter um jogador com o seu estatuto e importância. Em relação a Rodriguez, creio que, pela sua idade, as (legítimas) ambições de carreira que terá impedem provavelmente uma fácil renovação contratual. Em minha opinião, ele é um jogador muito sub-valorizado no futebol português, é de uma classe imenso, gosto muito de o ver jogar. tem no entanto dois problemas que talvez tenham dificultado a sua ascensão na carreira: a propensão para as lesões e alguma displicência/tendência para se desconcentrar - precisa de um treinador que ande sempre em cima dele!

O problema da saída de qualquer deles em Janeiro é a inexistência no plantel de jogadores de nível que os possam substituir. Na época passada, com Leone, estávamos bem cobertos. Nesta época, não há um jogador desse nível: Paulão respondeu melhor do que esperava às ausências ora de um ora de outro, mas não é a mesma coisa; Leo Fortunato foi, parece-me, um erro de casting.

Já a saída de Matheus, apesar de tudo quanto ele tem contribuído nesta época, poderia ser mais facilmente acomodada. Tem-se falado em Sougou (que também termina contrato no final da temporada) para reforçar os flancos - e eu considero que, ainda que sendo um pouco mais físico do que Matheus, poderia ser um óptimo relevo para o brasileiro. Para além do mais, há ainda Paulo César e o "esquecido" Hélder Barbosa (que eu particularmente nunca apreciei mas que parece ser da predilecção de Domingos).

Abraço!

Pascoal Sousa disse...

Tem razão, Carlos Alexandre. O contrato do João terminava em 2011 e tinha um cláusula indemnizatória de 3,5 milhões de euros. Mas o fundo da questão é o mesmo. O João Pereira não ia renovar pelo Braga, disse-o claramente à SAD, e no momento que se impunha o Braga vendeu o seu passe. Atenção: o João ia ser tranferido de qualquer forma. Tinha uma proposta do estrangeiro e se o Sporting não aparecesse, hoje o JP era mais um emigrante luso. Podem perguntar: mas o Matheus não ganhará mais se for em Junho? E os interessados, não podem esperar meio ano e ter Matheus sem pagar nada? Aqui joga-se um aspecto importante: a concorrência pelo activo. Comprá-lo já pode ser um bom negócio e evitar leilões. O custo zero é um ilusão. O custo zero do Quim custou ao Braga 500 mil euros...

Pascoal Sousa disse...

... Claro que também pode acontecer com o Matheus o que sucedeu com o Filipe Oliveira - saiu do Braga livre para o Parma. Mas o valor de mercado do Matheus é muito superior. Além de que o Jorge Mendes anda atento.

Anónimo disse...

Em relação ao jogo, parece-me sobretudo que o Braga teve uma abordagem bem mais inteligente que no 1º jogo, onde foi muito pouco agressivo e tentou jogar em campo grande. Tendo muito espaço entre linhas, onde o Arsenal é muito forte no jogo interior. Depois, tivemos a sorte do jogo (e agressividade tb), que no tem faltado em alguns jogos do campeonato. No entanto, voltamos a ter os mesmos problemas na capacidade de ter a bola no meio campo adversário.

Quanto as renovações, penso que a SAD do Braga, na altura devida (inicio de época) tenha tentado renovar com alguns dos jogadores que agora estão em final de contrato, e se eles não assinaram, é como diz o Bigsousa, é um direito que lhes assiste… Nada a fazer! Se a SAD não os abordou, agora vamos perder uma boa oportunidade de fazer uma boa maquia… No caso do Rodriguez, tivesse ou não feito uma nova proposta, duvido que ele renova-se.

No caso do Matheus penso que teria sido possível renovar no inicio da época o contrato, não sei se foi abordado para isso ou não, mas parece-me que pelo menos de forma concreta não o foi… Agora, penso que dificilmente renovará!

Moisés, pelo vistos, já tem uma proposta em cima da mesa, mas agora é normal que ele adie a decisão pelo menos até Janeiro, para ver o que “chove”. Talvez se a proposta tivesse sido no início da época, seria mais fácil de renovar. Agora temos de esperar até Janeiro e rezar que o mundo ande cego!

Penso que o facto de ter havido alterações do Director Desportivo não está alheio a estas não renovações! Adaptação ao clube, passagens de pastas, estudo dos dossiers etc etc Podem ter custado o tempo oportuno para fazer as renovações! Propor uma renovação de contrato em Setembro, quando já só faltam 4 meses para seres um jogador livre para assinar parece-me muito em cima do joelho, e certamente que os jogadores preferem esperar para ver o que dá. Ainda mais jogando a Champions!

Cidchen disse...

Foi uma noite mágica, uma noite de estrelas... vermelhas! Foi a prenda que eu tinha encomendado para mim. :P

Pascoal, podes tirar-me uma dúvida? Tem a ver com a Team of the Week e a Dream Team da Uefa. Qual é a diferença entre ambas? A Team of the week é votada pelos utilizadores do site, e a Dream Team é a própria UEFA que avaliam os jogadores, não é? Ou estou completamente errada?

Desde já, agradeço a atenção.

Pascoal Sousa disse...

É isso mesmo, Cidchen. O «dream team» resulta da soma de vários pontos numa tabela pela qual os jogadores são avaliados. Na Equipa da Semana, há um painel de adeptos e especialistas (treinadores, na sua maioria) que observam determinado jogo e fazem uma votação - o Moisés entrou nessa equipa na 3.ª jornada, com o Partizan. Agora foi a vez do Rodriguez (justíssimo) e do Matheus (obrigatório). Para o Braga é motivo para celebrar, para os jogadores, então, nem se fala. Curioso: só os jogadores do Braga em final de contrato receberam essa «medalha»... ;P

Cidchen disse...

Obrigada, pelo esclarecimento!

Poi, é curioso que só tenham sido premiados aqueles que têm o contracto a terminar, mas... não passa de uma coincidência tremenda. :)