sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Impressionante onda encarnada



Nestes últimos dias vi centenas de notas de euros a desfilar nas bilheteiras do Estádio Municipal de Braga. Honestamente, nunca pensei que a onda encarnada fosse tão forte e poderosa ao ponto de não travar um pouco perante o elevado preço dos bilhetes. Não vou falar dos 1500 ingressos a 22 euros que foram parar às claques do Benfica. A entrada mais barata custava 35 euros e ia por aí acima - 40, 50, 65... Sobram pouco mais de três mil bilhetes, que irão seguramente esgotar nos próximos dois dias.

Se a economia nacional tivesse a pujança da paixão encarnada, estaríamos a viver bastante acima da média europeia. Para o Braga, e para todos os clubes que receberam o Benfica, essa euforia chegou no momento certo. É um conforto para cofres depauperados ou sequiosos de euros. E o resto é conversa.

Não se pode é escrever, como já li num site de um jornal desportivo, que já foram vendidos 27 mil bilhetes. Não. Oito mil dos 30 mil lugares estão já reservados pelos detentores de cadeira anual. Seis a sete mil bilhetes são para sócios sem cadeira. A subtracção destes valores dá a real dimensão da vaga de fundo que amanhã irá apoiar a equipa de Jorge Jesus no Minho.

3 comentários:

clipsdevidro disse...

acredito, que tal como nos ultimos anos, os bracarenses vão estar em maioria.Não podemos deduzir que os bilhetes de público estão a ser comprados exclusivamente por benfiquistas. Quanto ao bilhetes serem caros, talvez concorde, ou talvez não. Por exemplo não me lembro de ir ao Estádio da Luz e pagar pelo bilhete menos de 20,00€, e nem sequer estamos a falar de bilhetes para bancadas centrais, como é o caso no Axa.

Pascoal Sousa disse...

Oito contos para ver um jogo não é barato. Nem na Suécia. Dez contos, 13 contos, é muito dinheiro. Mas não critico o Braga, aproveitou bem a onda para rentabilizar o jogo. De resto, quanto mais gente, mais custos indirectos o espectáculo gere, sobretudo no domínio da segurança. Vamos puxar para que seja um bom jogo, uma festa no relvado nas bancadas, com as naturais e inevitáveis bocas ao antigo treinador, mas não mais do que isso. Quanto aos compradores dos bilhetes, não há dedução nenhuma: sobram ainda bilhetes para sócios, portanto a procura, neste caso, foi mais intensa no final da última semana e início desta. Abraço e volte sempre

Pedro Ribeiro disse...

A questão dos preços é quase sempre colocada de forma incorrecta pela imprensa.

Em qualquer Liga de primeira linha (e nem é preciso tanto), os estádios enchem-se com adeptos... do clube da casa! O facto de em Portugal se passar frequentemente o contrário é apenas sintoma do terceiro-mundismo do nosso futebol!

Eu concordo que haja uma lotação mínima reservada ao público com preços regulados - tanto quanto sei, em Portugal, os clubes estão obrigados a ceder 5% da lotação do seu estádio ao adversário. Esses são os lugares cujo preço deveria estar regulado de forma a, dentro do possível - não se vedar o acesso ao futebol por razões económicas. Se depois o clube visitante não distribui essas entradas a quem deve (preferindo "oferecê-las" às claques) é outra questão.

Tudo quanto se diga para além disto é demagogia. O que se deveria questionar é porque é que a maioria dos clubes não consegue chamar suficientes adeptos para compor os seus estádios. E aí teríamos de ir muito longe, procurando razões dentro dos próprios clubes mas sobretudo nos quadros organizativos do futebol português - mesmo sendo certo que há razões de ordem sociológica que determinam este estado de coisas. É a organização do futebol português que reforça os factores de bloqueio que impedem o crescimento da maior parte dos clubes - porque está desenhada em função dos interesses dos três metralhas. Poderíamos começar pela repartição das receitas publicitárias e televisivas. Basta olhar para as competições mais profissionalizadas do mundo (e.g., EUA) para perceber que o negócio pressupõe um mínimo equilíbrio económico financeiro entre os participantes que salvaguarde o equilíbrio desportivo da competição. Como é evidente, isto não fará desaparecer diferenças entre "pequenos" e "grandes". Mas garante um mínimo de competitividade que ajuda a trazer pessoas aos estádios. Que ajuda os clubes a crescerem em termos humanos - que é o que mede de facto a grandeza dos clubes.

Esta conversa - que só se ouve quando um dos metralhas, sobretudo o Benfica, visita este ou aquele estádio - é, desculpe a expressão, gozar com o parolo.

Neste caso, uma vez garantido um número mínimo de lugares a preços regulados (e nunca poderia ser muito menos, dado que há bilhetes para sócios a 15 EUR), eu até sou de opinião que os bilhetes deveriam ser mais caros, fundamentalmente por razões desportivas. Pode até ser por acaso, mas os jogos em que o Benfica foi até agora derrotado foram aqueles em que realmente não teve grande apoio nas bancadas (Ucrânia e Grécia). Poder-se-ia ter obtido uma receita semelhante com menos visitantes nas bancadas...