domingo, 1 de fevereiro de 2009

Ramaldense


Foto: http://ramaldense.com.sapo.pt/

Não me recordo do ano - por volta de 1993 ou 94, acho -, mas lembro-me bem onde dei o primeiro passo no jornalismo desportivo. Foi no campo do Ramaldense (na foto) num jogo dos amadores da AF Porto. Um Paraíso da Foz-Café Lisbonense (um agradecimento ao caro Dragão Vila Pouca por me refrescar a memória). Fiz uma crónica virtual do jogo, isto é, o que escrevi não se destinava a ser publicado. A intenção era dar ao editor do futebol de «O Norte Desportivo» uma ideia aproximada do patamar em que estava o aspirante a jornalista - isso enquanto suspirava por me libertar do serviço militar obrigatório, o que veio a acontecer.

Fui na companhia de um amigo e companheiro que hoje trabalha comigo em A Bola. Havia cabras e ovelhas a pastar na zona dos espectadores e galinhas à luta com um garnisé. O povo agitava-se numa onda de indignação contra o árbitro. O avançado do Paraíso da Foz, que media mais de dois metros, foi expulso e saiu à bolachada do terreno. No intervalo, comi uma bifana condimentada com salmonelas que nadavam de costas, num molho muito suspeito. Bebi uma Super-Bock e comecei a correr atrás das cabras e a alimentar a esperança de assim construir uma carreira sólida no jornalismo. Foi um dia bem passado, que terminou numa redacção dominada pelo fumo do tabaco e pela pressão do fecho. Ainda me lembro das palavras do editor: «Não está mal, mas tens de ser mais objectivo.» Não era suposto as galinholas e os caprinos fazerem parte do enredo...

Hoje, disseram-me que o campo do Ramaldense volta a estar sujeito a interesses imobiliários. O clube está outra vez ameaçado. Não sei se sabem, mas da redacção de A Bola vê-se quase todo o pelado do Ramaldense. É uma visão que me faz regressar às origens. O Ramaldense, que tem o equipamento mais bonito de Portugal, não deve nem pode morrer. Se desaparecer, será mais uma ferida aberta num Porto que perde cada vez mais sentido.

5 comentários:

Da Rocha disse...

O E.Amadora da AF Porto. Muito bom o 'enredo' sobre à volta dessa crónica. Obrigado por o teres partilhado com a malta.

dragao vila pouca disse...

Meu caro eu joguei no Ramaldense.
É o meu segundo clube e é pena que nunca tenha conseguido dar o salto no futebol, já não digo para o nível do Hóquei, mas para outro patamar que não a última das divisões da A.F.do Porto.

De facto há anos que eles andam numa guerra pegada por causa dos interesses imobiliários - naquela zona o metro quadrado vale muito dinheiro -, já ganharam algumas batalhas, mas vai ser difícil ganhar a guerra.
Não terá sido Paraíso da Foz e não café Paraíso?

Um abraço

Pascoal Sousa disse...

É isso, caro dragão: Paraíso da Foz e o adversário era o Café Lisbonense. Aos 36 anos é com pena que digo que a minha memória está num estado mais degradado do que aquela bifana que me fez dar voltas na cama... Abraço

Anónimo disse...

Se se vê tão bem o campo do Ramaldense desde A BOLA, porque é que a A BOLA não faz uma reportagem a sério sobre o assunto? Esta é a questão em cima da mesa, quero dizer, no blog

Pascoal Sousa disse...

O blogue, caro anónimo, é um projecto pessoal, independente de qualquer jornal. Mas tenho a dizer uma coisa: já foi feita uma reportagem há tempos quando o Ramaldense ganhou o processo em tribunal, que lhe permitiu regressar ao seu campo.