quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Brilho europeu com nota sombria



Voltou a encantar a Europa este Sp. Braga talhado para os grandes palcos. Esmagou um Standard que - acredito - não esteve nos seus dias. Mesmo que os belgas jogassem ao seu nível, dificilmente evitariam a derrota. Magnífico golo de Renteria (agora, sim, a subir degraus de excelência), estreia a marcar de Leone, fantástico movimento colectivo no terceiro golo de Luís Aguiar. Foi mesmo muito boa a produção da equipa de Jorge Jesus, que está com pé e meio nos oitavos, onde irá defrontar ou o PSG ou o Wolfsburgo - os franceses ganharam o jogo da primeira-mão por 2-0.

A única nota sombria foi ver um terço de estádio com público. 9406 espectadores, sendo que quase 2 mil eram belgas. São números ridículos, sem ofensa para quem ontem deu tudo no apoio ao Sp. Braga. Mas ficou claro que as inúmeras campanhas levadas a cabo pelo clube para seduzir o seu público esbarram, na hora da verdade, na indiferença. António Salvador ficou decepcionado e não há que ficar espantado. Os bracarenses queixam-se sistematicamente que a comunicação social dá pouca amplitude às proezas da equipa. Mas deviam, por uma vez, olhar para dentro e reflectir sobre o número: 9406 espectadores.

13 comentários:

Anónimo disse...

É sabido que uma boa parte dos bracarenses torce, antes de mais, pelo benfica. O SCBraga está a fazer uma carreira internacional muito invejada pelos lampiões que, nesta prova, não podem pedir um Batista de Portalegre para resolver o problema.

Pedro Ribeiro disse...

O senhor Salvador devia olhar à sua volta e perceber o contexto onde o clube se insere. E, por exemplo, perguntar-se porque é que os nossos vizinhos de Guimarães, tão incensados pela presença do público, não conseguiram ter mais de 12 mil pessoas no seu estádio no jogo europeu frente ao Portsmouth - dos quais, segundo a imprensa cerca de 4 a 5 mil ingleses! Quinze dias depois, nós tivemos cerca de 8500, mas dessa feita só vieram mil ingleses. Ontem lá estiveram os 7500-8000 que vão estando sempre porque ainda vão podendo. E se o senhor Salvador, com estes preços, julgava que seria diferente, é ainda mais autista do que pensava: exigir 15 euros a um sócio para assistir a estes jogos, mesmo a crianças de tenra idade, é de lunáticos. Nem sei quanto pediam para o público em geral porque, a não ser os belgas, certamente nenhum bracarense pagou mais do que 15 euros para ver esta partida.

Estranho que o Pascoal de Sousa também não esteja atento ao que se passa à sua volta. Afinal, como jornalista desportivo, o seu salário não deve estar muito acima da mérdia dos salários auferidos pelos trabalhadores da região (Cávado e Ave). Mas pelo menos, ainda vai tendo emprego, ao contrário de muita gente à nossa volta...

Ibracadabra disse...

De referir que o preço para os bilhetes deste jogo, para o público em geral, era de 45 euros.

Cidchen disse...

Foi uma noite maravilhosa em pleno AXA, a equipa lusa mostrou mais uma vez a todo o mundo que sabe, que estuda, que pensa e que sabe muito bem deslumbrar.

Três excelentes golos, que dá mais tranquilidade à segunda mão, mas têm de ser humildes e irem lá com cabecinha. Ainda nada está ganho.

Algo que me deixa muito triste é isso dos espectadores presentes. A cidade de Braga é repleta de gente comodista que só vão ao futebol, quando lhes apetece, quando lhes convém. O clube não merece a cidade que tem. Atenção, não quero dizer para se mudarem para Guimarães como o Salvador já referiu uma vez! Só quero dizer que as pessoas que habitam em Braga deveriam dar mais valor à equipa. Ainda para mais, que nestes últimos 5 anos só nos tem dado ALEGRIAS!

Pascoal Sousa disse...

Vamos por partes: fala-se do preço dos bilhetes. Na actual conjuntura dar 15 euros para ver um jogo pode retrair muita gente. É verdade. mas já foi assim em outras ocasiões, com o Grasshopper, quando em causa estava a passagem aos 16-avos-de-final (7 mil pessoas) e com o Parma (8 mil e tal). A crise, a meu ver, é de devoção. Mas dou razão ao Rui Pedro Ribeiro: para as crianças e jovens, os bilhetes deviam ser mais baratos, tal como sucede nalguns jogos do Campeonato. Quanto ao público em geral, 45 euros só é exagerado se normalmente há muitos não-sócios a ir aos jogos. Em Braga, não há. Essa factura foi paga pelos belgas. Mas os bilhetes são uma desculpa estafada: a cidade não se mobiliza à volta do clube. Hoje, no treino, que é de graça, estavam 30 almas para aplaudir a equipa. 30almas estiveram há pouco, noite dentro, no treino do Pedras Rubras, aqui perto de Vila Nova da Telha. O Pedras Rubras está nos Distritais. O Braga está na Europa. Compreende-se a diferença. Abraço a todos.

Pedro Ribeiro disse...

Três notas:

1. O Pascoal de Sousa não percebeu o que disse ou vive (também) distraído do que se passa à sua volta; ou não se deu conta da verdadeira desgraça social que se abateu sobre esta região de há uns tempos a esta parte!? É que a tão falada crise (que ainda vai no início) tem afectado com particular violência esta região - e muitos daqueles que ainda não foram por ela tocados directamente, vão-se preparando para a eventualidade de serem por ela arrastados. Por isso, faz-me alguma impressão que as pessoas comparem estes tempos com o passado mais ou menos recente. As pessoas têm de acordar! São tempos muito diferentes, muito mais exigentes. Mas se calhar estou a ser demasiado severo com o senhor Salvador. Aparentemente, há mais pessoas que pensam como ele, que tudo segue na paz de sempre;

2. Não há muitos não-sócios a verem os jogos (da Liga) em Braga (e se calhar em lado nenhum). Mas isso não significa que fosse forçosamente assim em jogos de maior cartaz das competições europeias, caso os preços fossem razoáveis. Em boa verdade, estes são os jogos ideais para chamar a cidade para junto do clube. Não é assim que a SAD os encara, com olho na receita de bilheteira (contas que quase sempre saem furadas). Os preços para crianças e jovens são apenas a face mais visível dessa opção.

3. Quanto às presenças nos treinos, quem os acompanha quotidianamente, como o Pascoal de Sousa - como jornalista -, deveria também dizer que a SAD não incentiva de forma alguma a presença de público. Para além de muitos serem à porta fechada, mesmo aqueles que são realizados à porta aberta, frequentemente não são anunciados (como o treino a que se refere), ou quando o são, muitas vezes vêem o seu horário alterado. Os jornalistas que fazem a cobertura da equipa até têm experiência dessas dificuldades porque muitas vezes também são confrontados por exemplo, com alterações inesperadas dos horários de treinos. O Pascoal de Sousa sabe disso - embora lendo o que escreveu não pareça. Esta é mais uma opção da SAD/equipa técnica no sentido de resguardar mais o grupo... quanto a mim erradamente porque quebra os laços entre a equipa e o público e impede a criação de hábitos de acompanhamento quotidiano da equipa e do clube.

Pascoal Sousa disse...

Caro Rui: percebi perfeitamente o quis dizer sobre a crise. Há um sentimento de medo e receio por aquilo que possa acontecer no futuro e até no presente. É verdade. Mas, diga-me, esse sentimento não existe em Guimarães, onde há uma média de 15/16 mil pessoas no Estádio D. Afonso Henriques? Sei bem o que se passa à minha volta: há dois anos, sem crise, sem medos, sem receios, o panorama em Braga, no que ao público diz respeito, era igual. Agora, os treinos: ninguém é obrigado a comprar A Bola, basta ir a uma bomba de gasolina consultar o boletim diário de cada clube para se saber horários de treinos. É verdade, porém, que frequentemente há mudança de planos sem aviso prévio ou com avisos tardios no site do clube. Não me parece propositado nem destinado a afastar público dos treinos, embora, inadvertidamente, possa ter esse efeito pernicioso. Repare: não digo que os adeptos sejam exclusivamente culpados. O que digo é era desejável para o Braga que aos 8 mil espectadores habituais se juntassem outros tantos. Braga-cidade é grande. Guimarães-cidade é incomparavelmente mais pequena e é o que se sabe. Abraço

dragao vila pouca disse...

Lá vou eu ter de ser politicamente incorrecto: meu caro Bigsousa e a C.Social deu destaque ao jogo? Falou do jogo? Se fossem os outros vermelhos o que tinha acontecido? E depois do jogo e da grande vitória, o que destacava A Bola?
Pois é fica muito fácil malhar nos adeptos, mas fazer auto-critica...tá quieto, como diz o outro!
Se um clube como o F.C.Porto é maltratado, ignorado, descriminado e achincalhado...coitado do Braga!

Em Guimarães, num jogo que podia dar as meias-finais, o estádio estava às moscas. Porquê? Alguém falou no Vitória-Estrela? Não, só dá derby, com fedorentos em destaque.

Mas isto vai mudar...

Pascoal Sousa disse...

Em A Bola o Braga teve direito a cinco páginas (jogo) mais duas sobre o feito na UEFA (nos comentários que precedem a crónica). Tem sido sempre assim na campanha europeia. Comentadores com prestígio falam a uma cadência diária do Braga. Jornalistas de topo do jornal falam e escrevem quase todos os dias sobre o Braga. Nem no Braga se queixam, pelo contrário, admitem que nas últimas épocas o destaque dado ao clube tem sido muito bom. É em consciência, caro dragão, que o digo. O que é preciso perceber é que um jornal na Internet nunca é tão completo como no papel. E muita gente critica com base naquilo que «pica» na Net e outros criticam porque sim. Só porque sim. E esses são os que não vão ao estádio, não pagam quotas, não têm o mínimo de paixão por uma causa que, de forma por vezes leviana e protegidos pelo anonimato, se dizem defensores. Abraço.

Pedro Ribeiro disse...

O Pascoal de Sousa, porque segue (por obrigação profissional) o clube, sabe que até há pouco mais de um ano (em bom rigor até à entrada da última direcção de António Salvador) pouco ou nada foi feito para chamar gente ao estádio. De então para cá, a [nova] direcção tem feito algum esforço no sentido de aproximar o clube da cidade, mas os efeitos destas acções são, como é evidente, muito diluídos no tempo. Pena ter o clube acordado só nessa altura. De outra forma poderia ter beneficiado bem mais dos últimos anos de algum êxito desportivo, sobretudo desde o consulado de Jesualdo Ferreira.

Ainda assim, não obstante o esforço que no último ano e meio tem sido feito, momentos como estes grandes jogos das competições europeias, ideiais para aproximar a equipa e o clube da cidade, têm sido sucessivamente desperdiçados, através de uma política de preços disparatada, que afasta as pessoas em vez de as aproximar. E não me venha falar em Guimarães: apesar de reconhecer que a adesão dos vimaranenses ao seu clube, em termos numéricos, é maior que a dos bracarenses, a verdade é que o exemplo que apontei serve para constatar que quando as políticas de preços enveredam pelo autismo, lá como cá, as pessoas "encolhem-se"... E não o digo em jeito de crítica: é assim porque não dá para mais, antes de tudo que não falte o pão na mesa.

De resto, os problemas socio-economicos na região não são de agora: esta crise económica generalizada apenas os tornou mais visíveis. Ao ler que "há dois anos, [se vivia] sem crise, sem medos, sem receios" fica-se com a ideia de que os problemas são de agora. Não são! Veja as estatísticas da região do Vale do Cávado. Muita gente teve de sair da região para outros lugares (muitos para o estrangeiro) para garantirem o seu ganha-pão - o que é mais um obstáculo à tarefa de aproximação do clube à cidade, o desenraizamento das pessoas.

Quanto à imprensa, há que distinguir entre o tratamento jornalístico propriamente dito e o destaque que é dado aos eventos. E o destaque no caso dos jornais é a sua primeira página. É verdade que por exemplo, o "seu" jornal, na edição de quinta-feira (versão sul), lá trazia uma coluna dando conta da "noite de gala em Braga" mas quase toda a primeira página era ocupada com Scolari(!?) e o seu vaticínio para o derby de Lisboa. Enfim, são prioridades - que chocam com o costumeiro discurso patrioteiro da imprensa quando estão clubes portugueses em competições europeias... mas só alguns. Não se preocupe que eu sei que certamente não é o Pascoal de Sousa que define a primeira página do "seu" jornal. E confirmo que de facto, "lá dentro", houve uma cobertura "anormal" para um jogo do Braga - e sei-o porque como até estava longe e sem acesso à net, comprei o jornal.

Mas esta até é uma questão menor se comparada com o destaque prévio ao jogo. Exemplo: no dia anterior à partida de Braga, no serviço noticioso da RTPn (canal público!), na sua alargada página desportiva, o jogo foi o sétimo ou oitavo tema a ser abordado! Entretanto, por exemplo, como segundo ou terceiro destaque, a RTPn apresentou declarações de Lazlo Boloni, em Portugal para orientar a sua equipa frente ao Braga, em que o romeno abordava, a pedido do jornalista... o derby de Lisboa e quem de entre os grandes seria, em sua opinião, o maior candidato ao título! Isto é o pão nosso de cada dia, já sei, mas este pormenor fixei pelo ridículo da situação.

Isto entronca nas palavras do dragão vila pouca: a divulgação e o ambiente criado antes dos jogos também contam para galvanizar o público. Para as pessoas menos atentas (algumas das que se pretende atrair para o clube), partidas como esta passam ao lado. Se o clube quiser publicidade, paga-a bem paga. Em contrapartida, para qualquer jogo de um dos grandes, nem um qualquer lunático escapa a ouvir e ver falar ou ler sobre a partida, a que horas se disputa, quem joga e quem não joga, etc.... verdadeira publicidade gratuita! São diferenças que pesam.

Enfim, já "falei" demais num espaço em que sou mero convidado - e, pior, em que me faço convidar. Concordando ou não consigo, vou passando os olhos por cá com interesse... não fosse este um espaço (também) de comentário ao que se vai passando com o meu clube. Abraço!

Pascoal Sousa disse...

Caro Rui: você não se fez convidado, é o meu convidado. A porta está aberta, sobretudo a pessoas como você, que expõe de forma coerente e criteriosa a sua opinião, não entrando em contradição. Não lhe tiro razão naquilo que disse, mas eu falo pelo meu jornal e não pelos outros órgãos de informação, em especial a televisão. Só digo que é difícil gerir o fluxo informativo e que por vezes podem ser cometidas injustiças a esse nível.

A crise. Quando escrevi que «há dois anos não existia» referia-me à projecção universal que a recessão conheceu este ano. Há dois anos já Portugal estava mal, como infelizmente está desde a sua Fundação, mas a crise não abria telejornais nem fazia parte do discurso do presidente dos Estados Unidos.

O Braga tem realmente de limar arestas, mas o trabalho feito pelo marketing tem sido incansável. Pode só ser visível dentro de dois/quatro ou dez anos, mas vai dar frutos, desde que tenha continuidade. Abraço e volte sempre.

PS: Abra o seu blogue. A escrever como você escreve, vale a pena abri-lo ao público.

Cidchen disse...

Já agora, vou aproveitar o caminho e perguntar o porquê de estar apenas uma capa à mostra na página da A Bola. Se há duas edições (Norte & Sul) deveriam estar as duas online. Afinal Portugal, é Portugal... e não apenas a região sul do país.

Pascoal Sousa disse...

Cidchen: foi colocada essa questão a quem de direito, porque faz sentido ver todas as capas na edição online. A seu tempo acredito que isso vai acontecer.